PLANOS E POSICIONAMENTOS
Bem vindes ao nono post!
O assunto por aqui é um complemento direto da postagem anterior, que falou sobre efeitos conseguidos pelo enquadramento. Hoje, partimos para uma abordagem mais prática, falaremos sobre o começo do começo: onde pôr a câmera — e possibilidades a partir dessa decisão.
Falando de maneira mais direta sobre o posicionamento da câmera, já comentamos os efeitos da lateralidade, mas há alguns outros fatores que merecem destaque, são eles: o comprimento de eixo da objetiva, a distância focal, o nível da câmera/altura do ângulo (noções de verticalidade) e o lado do ângulo.
O comprimento de eixo da objetiva diz respeito à distância que a câmera fica do objeto/personagem. As nomenclaturas variam, mas existem algumas possibilidades básicas, são elas:
Panorâmica
É a distância máxima, representa um ponto de vista total. Com isso, abrange um campo de visão maior do que o olho humano. A panorâmica traduz a sensação espacial onde a história se passa, é a totalidade externa à cena. Normalmente, a panorâmica preserva a integridade do tempo e espaço reais, apresentando um ambiente à parte do personagem — a não ser que a velocidade do vídeo seja alterada na edição.
Plano Geral
Também coloca o cenário em cena, entretanto apresenta a relação do protagonista/objeto com esse ambiente.
“No videodança, o plano geral é muito utilizado, pois permite que a coreografia seja mostrada, sem que haja cortes de enquadramento. É como se mostrássemos o palco do teatro como um todo. Movimentos de pernas e braços, a fluidez do corpo do bailarino e seus deslocamentos são possíveis de serem vistos como um todo. Por se concentrar no corpo, esse plano direciona o olhar do espectador para o movimento gestual do bailarino.” (CAPELATTO, MESQUITA, 2014, p. 44)
Plano Conjunto
O plano conjunto trabalha com o mesmo tipo de enquadramento do plano geral (mesma distância do objeto), entretanto com um enfoque diferenciado. Enquanto o foco do plano geral recai sobre o ambiente e sua relação com o personagem, o plano conjunto enfatiza a ação realizada; enfocando os detalhes, alerta o espectador acerca de qual gesto ele deve observar em cada momento.
DICA (bem informal, pra ilustrar pouco mais a diferença entre eles): se chamássemos o plano geral de “Geralzão”, o plano conjunto seria o “Geralzinho”.
Plano Médio
Sua proximidade varia, podendo enquadrar a figura humana por inteiro (com um pouco de “ar” sobre a cabeça e “chão” sob os pés), como enquadrá-la a partir dos joelhos (o chamado Plano Americano, dos joelhos à cabeça), ou apenas a partir da cintura/busto (conhecido como Plano de Busto). Por se aproximar ainda mais da personagem, acentua ainda mais a percepção dos gestuais, dando ênfase à emoção da cena. O plano médio possibilita um diálogo entre a personagem e o espectador quando a câmera está posicionada de frente para ele. Quando posta lateralmente, enfocando o perfil do performer, dá a impressão de ignorar o espectador — pode sugerir a eminência de uma possível fuga.
Geralmente, em um videodança, esse plano é fixo e filmado com um tripé — para diminuir a oscilação. Outro motivo pelo qual a câmera normalmente é fixa porque o plano transita entre cenas agitadas/tensas — normalmente aceleradas, servindo como ponto de relaxamento. Além disso, como foca em detalhes normalmente precisa permanecer mais tempo na tela do que planos mais fechados e com menos informações visuais.
Plano Detalhe (Close-up)
A câmera, aqui, se posiciona bem próxima ao objeto/personagem, de modo que ele ocupa quase todo o cenário, sem deixar grandes espaços à sua volta. Como o nome sugere, é um plano que foca nos detalhes, podendo se aproximar tanto que enquadra apenas uma parte do corpo (como a boca ou os olhos); assim, confere intimidade e expressão à cena.
Na maioria das vezes, é filmado com a câmera sobre um tripé devido à instabilidade.
Nesse âmbito, é importante pensar, também, na distância focal, que é, basicamente o quão nítidas estarão as coisas na cena que não são o foco da ação. Por exemplo, um plano com distância focal curta conta com um objeto/personagem em primeiro plano, nítido, e todo o cenário registrado atrás dele desfocado. Dessa forma, uma distância focal longa conta com o restante da cena (tudo o que não está em primeiro plano) igualmente nítido. a distância focal colabora com o direcionamento do olhar do espectador para pontos específicos da cena.
A altura do ângulo nada mais é do que a posição vertical da câmera. Basicamente, pode ser:
Câmera Alta
Também conhecida como Plongée (palavra francesa que significa “mergulho”; a câmera está posicionada acima da ação/ acima dos olhos, direcionada para o chão ─ onde ocorre a ação). Como exemplo, pode-se citar as câmeras de segurança.
Câmera Alta Total: está posicionada completamente acima da ação, como uma lâmpada de teto, diretamente voltada ao chão.
Situação no Eixo
A câmera está posicionada no mesmo plano das personagens em cena. É o exemplo da câmera sobre o ombro do filmmaker, enquanto filma uma cena na qual as personagens estão em pé na sua direção; na mesma linha de visão das personagens.
Câmera Baixa
Ou Contra-Plongée (com o sentido de “contra-mergulho”); a câmera está posicionada abaixo da ação/abaixo do nível dos olhos, direcionada para cima ─ onde ocorre a ação.
Câmera Baixa Total: está posicionada abaixo dos pés das personagens, virada para o teto; como se estivesse abaixo de uma mesa de vidro, filmando um gatíneo deitadíneo com as patíneas amassadíneas.
[imagem ao lado. fonte: fonte: https://www.portaldoanimal.org/49-fotos-comprovam-todos-donos-de-gatos-deveriam-ter-mesa-vidro/ ]
O lado do ângulo se refere à posição da câmera numa relação de lateralidade com o sujeito em foco. Para isso, há quatro posições fundamentais:
frontal: disposta à frente da personagem, em linha reta com o nariz;
perfil: ao lado da personagem, formando um ângulo de aproximadamente 90 graus com o nariz da pessoa filmada;
3/4: é um meio termo entre as opções anteriores; a câmera forma um ângulo de aproximadamente 45 graus com o nariz da pessoa filmada;
de nuca: a câmera está em linha reta com a nuca da pessoa filmada
EXERCÍCIO
Proposta
A prática de hoje tem caráter de laboratório analítico; ou seja, é uma proposta simples de experimentação criativa. Basicamente, busca-se observar as diferenças expressivas presentes na mesma cena quando gravada a partir de pontos diversos.
O primeiro passo é escolher uma cena, por mais aleatória que seja: uma pessoa dançando, por exemplo.
Uma vez definido isso, é hora de escolher o primeiro lugar onde a câmera será posicionada, pensando na altura, distância do objeto e lado do ângulo. Grave!
Após a primeira gravação, escolha um segundo ponto para a câmera e regrave a mesma cena. Esse procedimento pode ser refeito quantas vezes julgar necessário.
Depois de coletar as imagens, assista a cada vídeo sequencialmente, buscando identificar como cada um altera os sentidos do vídeo.
Também é interessante explorar possibilidades na edição, fazendo cortes nos vídeos e alternando as cenas de cada um.
Essas alterações nos pontos de vista durante o decorrer de uma cena conferem dinamismo ao vídeo.
Materiais necessários:
Câmera filmadora (pode ser a do celular).
BIBLIOGRAFIA
Para esse post, foram consultadas as seguintes bibliografias:
A Arte do Cinema: uma introdução, de David BORDWELL e Kristin THOMPSON, 2014.
No Nível do Plano, resenha do blog Segundas Impressões, disponível em: https://assegundasimpressoes.wordpress.com/exemplo/cinema/no-nivel-do-plano/
Enquadramentos: planos e ângulos, postagem do blog Meu Primeiro Filme, disponível em: http://www.primeirofilme.com.br/site/o-livro/enquadramentos-planos-e-angulos/
Videodança, de Igor CAPELATTO, Kamila MESQUITA, 2014. disponível em: http://repositorio.unicentro.br:8080/jspui/bitstream/123456789/821/5/Videodança.pdf
Vale a pena ver também:
Então, pra quem gosta de cinema, vale conferir a completude da obra A arte do Cinema: uma introdução, de David BORDWELL e Kristin THOMPSON, 2014. Nessa onda, também é interessante o livro Sobre a História do Estilo Cinematográfico (2013), também do David BORDWELL.
Pra quem tem curiosidade, mas quer algo mais superficial, mais direto (porque os livros do Bordwell tem umas 700 páginas — são realmente obras bem completas), vale conferir os blogs citados anteriormente:
O Segundas Impressões, tem uma resenha sobre cinema bem completa, além de várias outras análises sobre o mundo do audiovisual. Disponível em: https://assegundasimpressoes.wordpress.com/exemplo/cinema/
Meu Primeiro Filme já é mais prático, e complementa bastante tudo o que foi dito aqui. Disponível em: http://www.primeirofilme.com.br/site/o-livro/introducao/