O QUE É VIDEODANÇA?
Bem vindes ao primeiro post!
Nosso objetivo hoje é apresentar um pouquinho do que é videodança, como surgiu e por que é considerada como algo diferente da dança, mas também não é exatamente videoarte ;)
A videodança começou a aparecer por volta dos anos 70, principalmente nos Estados Unidos, mas repercutiu também na Europa. Os artistas do período estavam engajados em encontrar novas formas de se expressar (e também subverter o atual sistema das artes, que estava sob forte influência dos princípios do mercado: vender o máximo possível, lucrar sempre que possível). Como consequência, estavam em ascensão a Performance Art e os Happenings, gêneros artísticos marcados principalmente pela presença e pela experimentação.
Seguindo essa ideia de explorar novas formas de se expressar, coreógrafos e bailarinos, inspirados pela videoarte (que ganhava espaço em galerias e museus), começaram a utilizar tanto a película quanto o vídeo para investigar novas possibilidades para o movimento no espaço e no tempo, bem como a exploração de novas percepções.
Assim, apesar da terminologia videodança se relacionar tanto com o registro em dança, quanto com a adaptação de coreografias para as telas, o gênero em si se refere a coreografias pensadas especialmente para as telas: é uma forma de experimentação que conquistou domínios próprios — tanto territoriais quanto estéticos —, criadas para o corpo do vídeo e para o olho que se habituou a conviver com a televisão, o vídeo e o cinema. Nas palavras de Maira Spanghero:
“[...] o que interessa primordialmente é que a câmera dance com o bailarino e que o bailarino se coloque no espaço e no tempo da câmera. No olhar da câmera. Quando a dança é captada pelo olho da imagem, ela ganha uma outra existência. Na realidade, o jogo adaptativo permite o florescimento de novas práticas para a dança e a modificação do corpo.” (SPANGHERO, 2003, p. 38)
Sendo assim, a videodança se constitui como uma linguagem híbrida: nem dança ilustrativa para o vídeo, nem vídeo didático sobre dança. É uma arte intermidiática, que surge a partir do ponto de convergência entre a arte do mover-se, a dança, e a arte de produzir imagens em movimento, cinema, vídeo, artes digitais. (WILDHAGEN, 2015, p. 128)
EXERCÍCIO
Proposta:
Pra nos familiarizarmos com os códigos dessa linguagem, o melhor modo é entrando em contato com ela. Tendo em vista essa forte relação da videodança com o despertar de novas percepções e experimentações do movimento, o primeiro exercício que propomos é justamente sobre PERCEPÇÃO. A atividade consiste em uma análise superficial de um videodança.
Material necessário:
Papel (para anotações)
Caneta/lápis/… (para anotar)
O que fazer:
escolher uma obra de videodança - abaixo, estão algumas sugestões
assistir o vídeo
anotar no papel todas as informações visuais percebidas (sobre o que é? Onde se passa? Quando se passa? O que senti assistindo? Por que senti isso?...) Qualquer elemento que chamou a atenção deve ser anotado.
O processo básico é este :)
A repetição dele fica a critério da disposição de cada um.
Obras sugeridas:
ANIMA. ANDERSON, P. T. e YORKE, T. 2019. 15min. — disponível na Netflix - https://www.netflix.com/title/81110498 (particulamente, minha preferida)
Mirrors from Embodiments of Silence. GLEEN, T. 2008. 1min. — https://www.youtube.com/watch?v=j3EnALFzphM
Westbeth. ATLAS, C. e CUNNINGHAN, M., 1974/75. 32 min. VHS. Digitalizado para web. — https://www.youtube.com/watch?v=rhkUZF_Am-I — vale ressaltar que a obra é considerada marco inicial da videodança
Coda. CAMARGO, M. 2008. 10min. — https://www.youtube.com/watch?v=8IsTNpmvo9A&t=491s (interessante pra quem gosta de jogos de iluminação; a obra trabalha com light painting)
Motion Control. AGGISS, ANDERSON e COWIE. 2000. 8min. — https://vimeo.com/316804174
Weightless. JANUNGER, E. 2007. 6min. — https://www.youtube.com/watch?v=iiJhRjBEm6o
Roseland. VANDEKEYBUS, W. 1990. 46min. versão para web de 8min. — https://www.youtube.com/watch?v=0xrCVwBGjO0
Personal Space. KAFTIRA, A. e LEUNG, P. 2010. 7min. — https://www.youtube.com/watch?v=EUUSp1miqOs
Anarchic Variations. AGGISS e COWIE. 2002. 7min. — https://www.youtube.com/watch?v=0oH7LRSO170
Love Yourself. GOEBEL, BIEBER, J. 2015. 4min. — https://www.youtube.com/watch?v=oyEuk8j8imI
BIBLIOGRAFIA
Para esse post, as principais fontes foram:
Videodança e a produção/difusão de conhecimento em arte, de Joana WILDHAGEN e Mariana B. M. ANDRAUS, 2015
O artigo aborda questões da natureza da videodança, alguns aspectos condizentes à sua produção e à sua difusão, bem como uma reflexão sobre o próprio fazer e problematizações sobre a dança em meio digital. Assim, comenta sobre o papel da crítica na área e analisa obras de videodança criadas a partir da iconografia cristã da história da arte ocidental.
Foi publicado na revista online IPOTESI, podendo ser encontrado em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/ipotesi/article/view/19501
A dança dos encéfalos acesos, de Maira SPANGHERO.
O livro aborda a relação da dança com a tecnologia, analisando, também, algumas obras e artistas. Pode ser encontrado em: http://d3nv1jy4u7zmsc.cloudfront.net/wp-content/uploads/2012/02/000292.pdf
Ademais, seguem algumas sugestões de leitura sobre o assunto:
Videodança, de Igor CAPELATTO, Kamila MESQUITA, 2014.
A obra serviu de base para esse projeto e está disponível em: http://repositorio.unicentro.br:8080/jspui/bitstream/123456789/821/5/Videodança.pdf
Criação em videodança : corpos em contaminação, dissertação de Daniel Silva AIRES, 2018. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/URGS_b8b2895034408649d010ba78d98c0012
CINEMA, DANÇA, VIDEODANÇA (entre linguagens), dissertação de Ana Paula NUNES, 2009. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp092364.pdf
Por entre mídias e artes, a cultura, texto de Amálio PINHEIRO, publicado no livro Húmus 2, 2007, org. Sigrid NORA, Caxias do Sul: Lorigraf.
Anarchic Dance, livro de Liz AGGISS e Billy COWIE, 2006, publicado pela editora Routledge.