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ILUMINAÇÃO

Bem vindes ao sexto post!

A partir de hoje, nosso foco muda um pouco. Ao invés de trabalharmos sobre o principal agente de ação das cenas (o corpo), nos voltaremos à mise-en-scène da obra. Mas o que é, afinal, mise-en-scène?

Em francês, originalmente, mise-en-scène (pronuncia-se miz-an-cene) significa ‘pôr em cena’, uma palavra aplicada, a princípio, à prática de direção teatral. Os estudiosos de cinema, estendendo o termo para direção cinematográfica, o utilizam para expressar o controle do diretor sobre o que aparece no quadro fílmico. (BORDWELL, THOMPSON, 2014, p.205).

Com isso, mise-en-scène trata dos aspectos do audiovisual que coincidem com as ferramentas do teatro: cenário, iluminação, figurino e o comportamento dos personagens. Em suma, refere-se ao conjunto dos elementos colocados em cena; afinal, uma vez que o olhar de espectadores é limitado ao que aparece no quadro, subentende-se que tudo o que aparece está ali propositalmente, em função de gerar um sentimento específico, conduzir o entendimento dos fatos e significados da narrativa. 

Como comentado anteriormente, o que caracteriza a linguagem da videodança é justamente o pensamento integrado entre quem coreografa e quem dirige, ou seja, uma movimentação pensada em conexão com os demais elementos da cena (inclusive posicionamentos de câmera). Entretanto, nesse momento, daremos foco a alguns desses aspectos de maneira isolada. 

O tópico de hoje é a iluminação.

“A cenografia mais elementar e grosseira pode, com a luz, revelar perspectivas inesperadas e fazer viver a história num clima hesitante, inquietante. [...] Com a luz, se escreve o filme, se exprime o estilo.” (FELLINI, 2000, p. 182 apud CAPELATTO, MESQUITA, 2014, p. 65).

Dentro do universo audiovisual, a iluminação de uma cena não é responsável apenas por tornar as coisas visíveis, mas também por destacar objetos e personagens; marcar sombras, contornos e cores; gerar movimento; pelas emoções frias e quentes e por significâncias espaço-temporais — por isso, é importante que a direção tenha consciência das possibilidades de criação de sentido a partir desse dispositivo.

Então, para trabalharmos essas sensações luminosas podemos recorrer a fontes naturais (o sol) ou artificiais (lâmpadas) — ainda é possível simular luz natural ou inserir luz na edição do vídeo. Dentre a sua funcionalidade prática, destaca-se três pontos básicos: 

  1. o destaque (próprio raio de luz);

  2. a sombra (pontos com pouca ou nenhuma luz — tudo que não é visível na cena);

  3. o reflexo (poderoso recurso para a finalização do ambiente). *

A relação entre os destaques e as sombras é chamada de contraste podendo ser mais ou menos marcada. Pode ser manejado para reforçar a relação entre objetos, deixando apenas eles iluminados,  por exemplo, e alterando a sua intensidade conforme essa relação se desenvolve.**

* Vale conferir o vídeo Weightless (referenciado no primeiro post) para um exemplo de como o reflexo pode colaborar na criação de sentido do ambiente.

** O videodança Coda (referenciado no primeiro post) trabalha sua estática a partir de um contraste acentuado. Isso corrobora com o efeito da técnica lighting painting utilizada, na qual a câmera grava desenhos realizados com a luz através de um Obturador (dispositivo capaz de permitir a passagem de luz durante um tempo determinado, capturando imagens sobrepostas).

[imagem a seguir. fonte: Coda (CAMARGO, 2008)]

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É interessante perceber como a luz também é capaz de remodelar o espaço, interligando cenários, criando ambientes diferentes em um mesmo espaço, recriando formas, alterando a nossa percepção de tamanhos e profundidades.*** Pode, inclusive, alterar a nossa percepção do tempo transcorrido em uma cena — por exemplo, diminuindo a iluminação ao retratar o anoitecer, ou mesmo simulando o passar de dias em uma só cena.

***Essa manipulação do espaço pela luz se torna evidente no vídeo Personal Space (referenciado no primeiro post), no qual a bailarina se encontra numa espécie de caixa. Pelo efeito da luz, não temos certeza de onde fica essa caixa, quais as proporções desse ambiente e nem da distância entre ela e a mulher assistindo a cena.

[imagem a seguir. fonte: Personal Space (KAFTIRA e LEUNG, 2010)]

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Dia 6: Imagem

A partir disso, se tornam perceptíveis duas naturezas das intenções da iluminação:

  1. atmosférica: define o espaço, o ambiente, insere os objetos.

  2. dramática: atua como uma personagem, objeto cênico; podendo ser utilizado para significância cênica, e não apenas para iluminar ou criar sombras, mas por ser algo supostamente físico. 

A qualidade da iluminação (sua intensidade relativa) também deve ser levada em conta quando se busca produzir significados. Os fatores determinantes são a procedência físico-química e a frequência das luzes. Por frequência, compreende-se a potência das luzes (nas artificiais, medida em watts). Já sua procedência diz respeito ao material que as produz, suas fontes. Elas podem ser:

  1. naturais: sol;

  2. quentes: lâmpadas halógenas ou led — produzem raios de luz e sombras bem definidas, enfatizando os contornos e texturas;

  3. frias: lâmpadas fluorescentes — produzem raios e sombras difusos/menores; o efeito é similar à iluminação de um dia nublado.

É importante lembrar que os efeitos das luzes podem ser manipulados com filtros, gelatinas e até na edição do vídeo. Além disso, nosso entendimento de cores quentes ou frias independe da procedência das luzes, mas isso será abordado mais detalhadamente no futuro.


Por fim, vale comentar alguns efeitos conseguidos a partir da direção da iluminação — isto é, o caminho da luz desde a sua fonte até o objeto iluminado.

  • Iluminação frontal: tende a eliminar as sombras; ocasiona uma sensação de planaridade das imagens.

  • Iluminação lateral/luz cruzada: enfatiza características dos personagens, esculpindo suas formas.

  • Contraluz: luz que aponta para a câmera, com o objeto posicionado entre ambos — pode ser colocada com ângulos diversos; utilizada para criar silhuetas, mas se combinada com a luz frontal cria um efeito chamado iluminação de contorno/contorno de borda, pelo qual os objetos têm seu contorno discretamente iluminado.

  • Iluminação de baixo: posicionada abaixo do objeto, voltada para cima; distorce características, frequentemente usada para o efeito de terror-dramático.

  • Iluminação de cima: destaca feições como as maçãs do rosto.

Normalmente, são utilizadas mais de uma fonte de luz. Assim, a principal é chamada de luz-chave, caracterizada por gerar sombras mais fortes; e as demais são luzes de preenchimento, menos intensas e preenchem a cena, enfraquecendo ou eliminando as sombras projetadas pela luz-chave. 

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EXERCÍCIO

Proposta

Então, agora que vimos um básico sobre possibilidades e efeitos conseguidos com a luz, o objetivo é ver o que pode ser reproduzido, recriado e explorado com a iluminação que temos em casa nas suas mais diversas formas. 

  1. O primeiro passo é reconhecer todas as possíveis fontes de luz disponíveis em casa, como: janelas, lâmpadas, abajures, lanternas, tela de aparelhos eletrônicos (celulares, tablets, computadores, televisores, relógios, etc), velas, isqueiros, a luz do forno, da geladeira, microondas,... qualquer possibilidade deve ser reconhecida pra ser explorada futuramente.

  2. Escolher uma/duas.

  3. Depois de reconhecer as fontes de luz, é importante estudar as características das sombras que elas produzem, a intensidade, nitidez dos contornos, etc.

  4. A partir disso, começa a fase do levantamento de questionamentos e possibilidades: Essas fontes de luz são fixas ou podem ser realocadas em casa? É possível usá-las como iluminação principal de uma cena? O que acontece se colocarmos objetos na frente delas? É possível usar filtros caseiros (como objetos translúcidos)? Como se pode neutralizar as sombras produzidas? Como enfatizá-las? É possível usar algo para refletir essas luzes? 

As variáveis são infinitas!

  1. O próximo passo é a prática laboratorial

  1. escolher uma fonte de luz

  2. escolher um objeto para interagir/interferir nessa luz (corpo, bolinhas de papel jogadas na frente, uma bola que role por perto, qualquer coisa mesmo!)

  3. fazer filmagens testes, explorar movimentos combinados com as luzes

  4. assistir tudo, analisar os efeitos conseguidos, etc. 

  1. Depois disso, é interessante fazer laboratórios de tratamento de imagens com um programa de edição: aumentar/diminuir contrastes, a nitidez, etc. Alguns programas de edição de vídeo já contam com algumas opções bem interessantes, como o KineMaster ou o PowerDirector, para usuários de Android, ou o iMovie, para usuários de iOS.

segue nosso vídeo exemplo de possibilidades 

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E aí, deu pra ter umas ideias? A proposta era essa mesmo :) 

DICA: Como foi comentada a importância da direção ter consciência do que objetiva passar aos espectadores, vale pesquisar um pouco sobre a Gestalt, teoria psicológica que estuda a percepção — ou melhor, a ordem na qual o cérebro percebe objetos e faz conexões entre os significados interpretados.

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BIBLIOGRAFIA

As referências usadas nesse post foram:


Vale a pena conferir:

  • A luz, o iluminador e o performer: uma experiência perceptiva, dissertação de mestrado de Cláudia Pinto de BEM, 2014. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/105096 

  • O que se tem dito sobre iluminação, texto de Roberto A. CAMARGO, publicado no livro Húmus 2, 2007, organizado por Sigrid NORA; Editora Lorigraf - Caxias do Sul/RS.

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