top of page

FORMAS DE MOVIMENTO

Bem vindes ao quarto post!

Hoje, nosso objetivo é descobrir possibilidades de movimento a partir de ordens/indicações/orientações externas a nós, ou seja, como adequar movimentos a ações e situações: como usar o corpo pra expressar ideias já concebidas?


Apesar de não existir uma regra exclusiva e fechada sobre o meio de transmitir ideias com movimentos, convém reconhecer a importância dos estudos de uma figura histórica específica: Rudolf Laban. Responsável pela criação da dança moderna, o alemão desenvolve um estudo minucioso sobre as qualidades de movimento, como percebê-las, explorá-las e (d)escrevê-las. Para isso, determina quatro grandes categorias de observação de um movimento, são elas: Expressividade, Espaço, Corpo e Forma. Para que olham, então, essas categorias?

  1. A Expressividade — também compreendida como dinâmica, esforço ou qualidade — busca descrever como um movimento acontece: observa a tensão, a energia, o impulso interno. 

  2. O Espaço procura observar onde ocorre o movimento: em que lugar/meio o corpo existe, como se relaciona espacialmente com os elementos externos a si, o que se desloca, em que direção, em qual nível, em qual amplitude?

  3. O Corpo, por sua vez, se volta à estrutura física que se move: o que, quais partes do corpo trabalham juntas, que mecanismo é ativado.

  4. Por fim, a Forma busca compreender quem se move, ou seja, estuda o volume de cada corpo no espaço, a relação do interno com o externo e a interação entre corpo. 

É importante ressaltar que essas categorias são apenas pontos de onde partem observações sobre um movimento, são indicações para a percepção de aspectos, e não tipos de movimento específicos. Portanto, cada movimento pode ser descrito observando várias qualidades simultâneas. 

Para a prática de hoje, nosso foco recai sobre a Expressividade. A categoria criada para descrever a dinâmica dos movimentos se divide em outras quatro subdivisões, e cada uma dessas subdivisões possuem duas polaridades. São elas:

  1. Peso: para Laban, o peso de um movimento pode ser leve (delicado, suave), ou forte/firme (mais tenso, com pressão).

  2. Foco: o foco de um movimento pode ser direto/objetivo (com um espaço mais restrito), ou flexível/indireto (mais aberto).

  3. Tempo: o movimento pode ser rápido/acelerado (com sentido de urgência), ou lento/desacelerado (prolongado).

  4. Fluência/Fluxo: fala sobre a continuidade do movimento, podendo ser livre (com a energia liberada — é um movimento difícil de ser parado, como uma estátua), ou contido (controlado, cuidadoso).

É interessante perceber que essas categorias são como extremos de um espectro, e o que nos faz classificar um movimento dentro delas (por exemplo acelerado ou desacelerado) é a comparação com outro movimento, ou com outro momento do movimento. Sendo assim, um movimento não precisa, necessariamente, estar fixo em uma categoria. Elas são apenas modos de se observar e descrever características de um movimento.


Laban previu, inclusive, a possibilidade de observar um movimento sob uma lente de categorias combinadas, ou seja, descrevendo o resultado de um movimento a partir da observação de seu peso e de seu tempo, por exemplo. A essas combinações de duas categorias, deu o nome de Estados, são eles:

  1. Onírico: combina o peso e o fluxo; leve e contido, leve e livre; forte e contido, forte e livre

  2. Rítmico: combina o peso e o tempo; forte e rápido, forte e lento; leve e rápido, leve e lento.

  3. Estável: combina o peso e o foco; direto e forte, direto e leve; indireto e forte, indireto e leve

  4. Remoto: combina o fluxo e o foco; livre e direto, livre e indireto; contido e direto, contido e indireto

  5. Móvel: combina o fluxo e o tempo; livre e acelerado, livre e desacelerado; contido e acelerado, contido e desacelerado

  6. Alerta: combina o tempo e o foco. desacelerado e direto, desacelerado e indireto; acelerado e direto, acelerado e indireto.

O leque de combinações feitas por Laban continua. Ao combinarmos três categorias sobre nosso foco de observação, descreveremos o que chamou de Impulsos do movimento. As possibilidades são:

  1. Mágico: observa o peso, o fluxo e o foco;

  2. Apaixonado: observa o peso, o fluxo e o tempo;

  3. Visual: observa o fluxo, o tempo e o foco;

  4. Ação: observa o peso, o tempo e o foco.

Para a nossa prática, é interessante, também, comentarmos sobre a visão que Laban tem do Espaço. 

Em relação ao nosso corpo, Laban vê o espaço a partir de três formas:

  1. Espaço Interno: preenchido por nossos músculos, ossos, vísceras, etc.

  2. Cinesfera / Espaço Individual ou Pessoal: a área em volta do corpo onde se é possível alcançar pelos movimentos de braços e pernas em extensão máxima e cujo centro é o centro do corpo.

  3. Espaço Global ou Geral: espaço que fica além do alcance do corpo em extensão máxima. 

A partir disso, o percurso dos movimentos pode ser: 

  • central, quando este passa pelo centro do corpo, vem em direção ao centro ou irradia dele; 

  • periférico, quando passa pelos limites da cinesfera (nosso espaço individual); 

  • ou transverso, quando ocorre entre o nosso centro e os limites da cinesfera. 

Esse movimento pode ter alcances variados, sendo curto/pequeno, médio ou longo/grande. Laban busca compreender também em que nível esse movimento ocorre: se está no nível alto (acima da nossa linha dos olhos), médio (o que está na nossa “zona de conforto” quando em pé) ou baixo (próximo ao chão).

Essas categorias, bem como o Corpo e a Forma, são exploradas por Laban e seus seguidores de maneiras bem mais aprofundadas do que aqui. Entretanto, com essa introdução a elas, já é possível pensar em movimentos a partir de vários critérios diversos.


Bem, vamos a prática!

Dia 4: Texto

EXERCÍCIO

Proposta

A partir dos estudos de Laban, a proposta aqui é experimentar no corpo maneiras de realizar ações/movimentos a partir das combinações previstas pelos estados de Laban, combinando, na medida do possível, diferentes possibilidades espaciais. Essa prática vai ser guiada ;)


Materiais necessários:

  1. seu corpitxo

  2. algo que reproduza som (alto-falantes, o computador, celular, etc…)*

  3. um espaço mínimo (os deslocamentos se adaptam a ele, então não precisa de um salão enorme e vazio ;)**


* Rola fone de ouvido também, mas aí de preferência bluetooth, pra não atrapalhar a movimentação.

** Não precisa ser grande, mas é importante que cada um se sinta confortável pra prática. Afinal, quando se fala em conhecer o corpo a partir da nossa parte sensorial, o resultado é proporcional à entrega que cada um dá. Quando mais abstrair do ambiente pra focar nas sensações do corpo, melhor.

Dia 4: Texto
Dia 4: Vídeo

E aí? Deu pra pensar um pouco sobre? Os modos de combinar são infinitos, e essa é a parte mais legal. 

Pensando nisso, eu deixo aqui pra quem tiver interesse/disponibilidade uma tabela com as ações básicas do movimento de Laban (combinações de peso, tempo e espaço/foco) pra seguir com as explorações :)

Sem título.jpg
Dia 4: Texto

BIBLIOGRAFIA

Pra esse post, foram usadas as seguintes referências:

O Domínio do Movimento, de Rudolf LABAN, 1978, pela Editora Summus.


Para ir além...

  • LABAN PLURAL: Arte do movimento, pesquisa e genealogia da práxis de Rudolf Laban no Brasil, de Melina SCIALOM, 2017, pela Editora Summus.

  • Fazendo conexões: interação, artigo de Peggy HACKNEY, 2008, publicado nos Cadernos do GIPE-CIT, Nº 18, Estudos em Movimento I: Corpo, Crítica e História.

  • A escrita da dança: um histórico da notação do movimento, um ensaio de Ana Lígia TRINDADE e Flávia Pilla do VALLE, 2007.

  • Dicionário Laban, de Lenira RENGEL, 2001. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/284892/1/Rengel_LeniraPeral_M.pdf

Dia 4: Texto
bottom of page